O homem está lá, desafiado pela grande porta.
Com alguma dificuldade, descobre a fechadura e se percebe com a chave à mão.
Tenta, tenta, combinando as partes, e aos poucos a trave vai cedendo, a fechadura funciona e a porta se abre.
Dentro há inúmeras portas, cada qual com uma fechadura diferente. Todas devem ser abertas, mas só há uma única chave. É preciso ajustá-la às fechaduras. Para tanto o homem necessita usar sua maleta de ferramentas. Lapida aqui, acrescenta ali, endireita acolá até que a resistência se dobre e a chave libere a porta.
Em cada porta que se abre o fenômeno se repete: várias outras portas interpõem-se ao caminhante, num permanente desafio.
Muitas vezes a fechadura emperra, a chave não é adequada, as ferramentas não ajudam, o ambiente é sufocante e o homem desespera. A vontade é acomodar-se, mas não há outra alternativa inteligente; é vital prosseguir tentando.
Esse o destino humano: abrir portas, conquistar ambientes, transpondo fechaduras com uma única e frágil chave, até a porta final, que se escancara ao infinito.
Do Livro: Visão e Parábolas (esgotado na editora)
Francisco Gomes de Matos
Editora Campus